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Domingo, 1 Outubro 2023
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Hélio “Link” Pene

O ilustrador na primeira pessoa

Comecei a desenhar muito cedo, foi a minha primeira linguagem, tal como para as outras crianças. Obviamente sem noção daquilo em que realmente me poderia vir a tornar, comecei inspirado pelos traços do meu primo Nuno, feitos a lápis nas paredes do nosso quarto. Obcecado por tais traços, procurei sempre imitá-lo e fazer ainda melhor. Tempos depois, percebi que poderia redesenhar os personagens dos videojogos, almanaques, filmes, desenhos animados, até achar que poderia criar o meu próprio “universo”. Sou um verdadeiro desastre noutras áreas, nunca me dediquei tanto a nada senão à arte de fazer narrativas em quadrinhos. Admito que hoje só sei fazer isto e procuro fazê-lo com a maior perfeição possível.

Considero o meu trabalho fascinantemente curioso. A arte de “imprimir” graficamente uma ideia, conceito, pensamento, numa tela branca, contando uma história com um princípio e fim, na qual podemos transmitir uma mensagem, formar opiniões, incitar debates e inspirar leitores e seguidores, é algo que é motivador e estimulante. Sentimo-nos presenteados quando um desconhecido aparece e cobra de nós. Percebemos que existe algures alguém que se inspira nas nossas infinitas horas de criatividade, fazendo delas uma luz para se orientar na busca do seu talento ou no aprimoramento da sua habilidade. Como digo repetidamente, não se trata apenas de ilustrar, mas também de incentivar e inspirar o próximo.

Fico a imaginar como poderia ser essa
história real num mundo fantástico e
imaginário. Acrescento o factor “exagero”,
e já está. A imaginação se encarrega do resto.

As minhas melhores ideias surgem do quotidiano, do dia-a-dia. Quando acontece ou assisto a algo que me fascina, fico a imaginar como poderia ser essa história real num mundo fantástico e imaginário. Acrescento o factor “exagero”, e já está. A imaginação se encarrega do resto. Todos gostamos de uma história. Mas, se a ela acrescentarmos o poder do surreal, então teremos uma excelente história. Treinos e a prática repetida constantemente são os ingredientes essenciais para se atingir a perfeição. É preciso ver o que os outros fazem e copiar, não há mal nenhum em copiar. A cópia faz de quem a pratica um aluno, o mau é querer permanecer aluno para sempre.

A nível nacional, infelizmente, não temos muitas referências, arrisco-me até a dizer que quase nenhuma. Se as temos, não estão cá em Moçambique. Há um espaço enorme deixado por artistas do passado, e eu tenho a ambição de ocupar esse espaço tornando-me a referência. Posso citar Marco Rudy, Nuno Plati e Hélder Pilote como exemplo de minhas referências para a banda desenhada. Maísa Chaves, Hélder Sutia, Neyla Francisco e Zacarias Chemane como ilustradores. Falando de com quem gostaria de um dia colaborar, internacionalmente, devo citar Olivier Coipel, Nuno Plati, Romita, EPHK, Francesco Mortarino e Dan Mora. São tantos os que influenciam a minha forma de ver, fazer e viver a banda desenhada que não conseguiria mencioná-los em apenas uma página.

Houve um episódio que me marcou quando estava no ensino secundário e era um autêntico coleccionador de revistas de banda desenhada. Nessa altura, já ilustrava bastante, e a minha mãe, preocupada com o tempo que eu despendia nessa actividade e não nos manuais da escola, decidiu esconder todos os meus livros daquele género.  Prometeu que mos devolveria assim que terminasse o ano lectivo, e passaram-se três anos. Ora, um tio meu, irmão da minha mãe, que nos seus tempos de juventude também gostava de banda desenhada, contou-me que o pai dele, ou seja, o meu avô, tinha feito a mesma coisa, e prometeu devolver as revistas após a conclusão do ano lectivo. Tal coisa nunca aconteceu, as revistas haviam sido queimadas. Percebi então que era o fim da minha colecção e que nunca mais iria ter acesso às minhas BD. A parte boa disto tudo é que, por causa desse episódio decidi que ia fazer as minhas próprias histórias. Só tenho mesmo de agradecer.

O mundo digital trouxe um impacto tremendamente positivo para o mundo das artes. Lembro-me de que, quando havia pouco acesso às redes, dificilmente se poderia saber ou conhecer o trabalho dos nossos ídolos, ter acesso aos tutoriais ou outras ferramentas. Hoje já é possível expor trabalhos e obter como retorno conselhos e críticas, colaborar remotamente e ter incremento financeiro com isso, assim como aproximar pessoas que partilham dos mesmos objectivos, sonhos e missões.

Não se trata apenas de ilustrar, mas também
de incentivar e inspirar o próximo.

Quero fazer o meu próprio caminho. Tornar-me uma referência, primeiro a nível nacional e depois além-fronteiras. Se possível, a partir daqui, do meu país, pois é aqui que sinto que sou necessário. Quero fazer bandas desenhadas e assinar com nome próprio, criando uma marca que possa impulsionar, motivar e inspirar não só amadores de banda desenhada, mas todos aqueles que, com ou sem recursos, acreditam que podem fazer a diferença, tornando-se ídolos de si próprios.

SourceXONGUILA
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