Estes acusam ainda o Governo de não ter uma política de protecção dos munícipes nesta área.
Segunda-feira passada, 27 de Março, entrou em vigor a nova tarifa dos transportes públicos de passageiros que foi agravada em três meticais. Isto é, a tarifa que era de 12 meticais passou a custar 15 e a de 15 passou para 18 meticais.
Nas primeiras horas daquele dia a circulação dos transportes, tanto os semi-colectivos, autocarros das empresas municipais, e mesmo das empresas privadas, não foi muito notável nas vias, devido a um receio de que fossem vandalizados pela população que pudesse estar enfurecida por este aumento de tarifas. Algumas paragens ficaram abarrotadas de passageiros, com alguns semi-colectivos a circularem vazios, em jeito de testar o ambiente no terreno.
O Projecto Famba, que era o que podia minimizar os efeitos dos custos, é considerado
por alguns utentes dos transportes públicos, entrevistados pela nossa reportagem, como
um aborto.
Mesmo assim, os utentes daqueles meios de transporte acenavam para que os carros parassem para lhes transportar para os seus afazeres, sem que os motoristas parassem. Havia um sinal de que poderia haver greve dos transportes naquele dia, o que felizmente não aconteceu.
Algumas pessoas abordadas pela nossa reportagem mostravam-se angustiadas pelo que estava a acontecer, pois devido à redução dos transportes que atrevidamente carregavam os passageiros, estes estavam a atrasar aos seus postos de trabalho e ou outros locais. Sobre o impacto do aumento da tarifa, Paulo Alfredo, abordado na paragem vulgo Carpintaria, no bairro George Dimitrov, cujo destino era o Hospital Geral José Macamo, disse que “vou a uma consulta e estou a atrasar”.

“O valor da tarifa que foi acrescentado parece pouco significativo, mas se formos a fazer as contas mensais não é tão pouco assim. Dizem que fizeram o aumento através da TSU, mas este aumento da tarifa vem tirar aquilo que muitos se achavam estarem beneficiados. Nós a população estamos domados. Na África do Sul aquela população não havia de aceitar este tipo de situações, pois eles sabem reivindicar quando se trata deste tipo de brincadeiras”.
Apercebendo-se da conversa que o nosso repórter estava a ter com Paulo Alfredo, um cidadão que preferiu falar em anonimato, e disse ser trabalhador do Município de Maputo, apontou que naquela manhã ia atrasar tomar o autocarro da instituição que transporta os funcionários. “Olha, nós não fomos abrangidos pela TSU, mas penso que somos também funcionários do Estado. Se faço as contas, o meu salário não vai ser suficiente para suportar o transporte dos meus dois filhos para a escola. O agravamento, parecendo pouco, não o-é. Com o tempo isto vai nos sufocar os bolsos”, apontou.
Deslocamo-nos à paragem conhecida por Benfica, ainda no bairro George Dimitrov, onde procedemos algumas entrevistas e escutávamos conversas de pessoas que estavam à procura de transporte para os seus afazeres, e o sentimento era de que o agravamento da tarifa penalizava o pacato munícipe.
Famba é um aborto
Falando concretamente do Projecto Famba, conversámos com um passageiro dentro de um autocarro que tinha uma maquineta instalada para uso do Cartão Famba, tendo-nos exibido o cartão em sua posse e disse: “este cartão ainda tem algum valor mas estas máquinas não estão a funcionar. Isto foi uma roubalheira. Muitas pessoas gastaram dinheiro para a aquisição destes cartões que não chegaram a funcionar. Para onde foi este dinheiro? Está nos bolsos deles. Este projecto nasceu falido, ou seja, esta é uma burla que mais uma vez o Estado fez aos cidadãos”, disse a nossa fonte, que foi secundada por um outro passageiro nos seguintes termos:
“o Famba, para além de ser uma burla é um aborto” – risos no autocarro.
Este nosso último interveniente disse-nos que tem por vezes feito viagens de negócios para alguns países vizinhos, nomeadamente para a África do Sul, Eswatine e Zimbabwe.
“Os transportes públicos de passageiros não são tão desorganizados como aqui. Penso que naqueles países os governantes se preocupam em organizar este sector. Aqui há vezes que se fala em comprar autocarros e reforçar o transporte de passageiros, mas nada se tem notado de concreto. Isto dá a entender que o Estado não está preocupado. Na África do Sul, por exemplo, o sistema é super sofisticado”, disse.