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Domingo, 1 Outubro 2023
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Beira Boi

Depois da tempestade vem a bonança.

A Beira Boi é uma empresa do sector agro-pecuário, fundada em 2008, que se dedica principalmente à produção de gado de corte. Em 2020, Frederico Carvalho adquiriu 63% do seu capital social, um ano depois aumentou a sua participação em 15% e, em 2022, com a ajuda de amigos e familiares, acabou por adquirir totalmente a empresa, transformando-a em uma sociedade familiar. Este empresário do ramo automóvel, de 42 anos, adquiriu uma empresa totalmente descapitalizada, à beira da falência, que teve de se reinventar. A oportunidade de negócio transformou-se num enorme desafio, que ainda hoje enfrenta, mas que superou com audácia e, acima de tudo, muito sacrifício. Actualmente, a Beira Boi encontra-se a recuperar da crise, e continua firme na prossecução do seu objectivo: ser líder na criação de gado a nível da zona centro de Moçambique. 
Frederico Carvalho, natural da cidade de Fafe, distrito de Braga, na região norte de Portugal, reside em Moçambique há exactamente uma década. Veio ao país pela primeira vez em 2013, a convite de amigos. Uma visita que se transformou em uma descoberta e onde iniciou uma nova página da sua vida, uma página virada a milhares de quilómetros de distância de casa e da família: “Meus amigos venderam-me um sonho cor-de-rosa. E, como sou uma pessoa que gosta de desafios, em 2013 decidi vir conhecer o país”.

“Mesmo perante as situações mais difíceis,
e não foram poucas, nunca tive vontade
de desistir. Não está no meu DNA nem
na minha essência desistir”

Frederico Carvalho (Director Geral – Beira Boi)

A reinvenção após os 40

Filho de um arquitecto e de uma modelista, Frederico não seguiu as pegadas dos seus progenitores, deixou de estudar aos 19 anos por almejar a sua independência financeira. Começou muito cedo, como vendedor no ramo automóvel, mais tarde adquiriu uma oficina auto, tendo-se dedicado a essa actividade até hoje. Em momento algum, até aos 40 anos de idade, teria sequer imaginado trabalhar numa fazenda, e muito menos ser proprietário de alguma. Porém, a vida traz muitas surpresas e, em 2020, adquire a posição maioritária na Beira Boi, mudando desta forma o foco da sua actividade. “Eu já conhecia a empresa há alguns anos, era uma empresa com muito potencial. Contudo, ela sofreu bastante, principalmente ao nível das infra-estruturas, maquinaria, e até mesmo perda de animais com a passagem do ciclone Idai. Quando comprei a primeira parcela das quotas, deparei-me com uma empresa praticamente obsoleta”, descreveu.

Após a primeira aquisição feita por Frederico, a empresa foi forçada a suspender a actividade durante quase um ano, mais especificamente 11 meses, devido a problemas judiciais entre os antigos sócios. “Foi um período extremamente conturbado. Para além de ter sido surpreendido pela situação, era necessário manter toda a operação relativa à empresa, desde o tratamento e medicação dos animais até aos salários dos trabalhadores e todos outros custos operacionais fixos, sem, contudo, podermos operar para fazer face às despesas. Consequentemente, o dinheiro que tínhamos projectado para reinvestir e revitalizar a empresa acabou por ser, forçosamente, canalizado para cobrir os custos operacionais fixos, o que levou ao atraso do nosso crescimento, obrigando-nos a redesenhar as nossas estratégias”, contou o administrador da empresa.
Foi por via do apoio da esposa, familiares e amigos, que emprestaram dinheiro ao empresário audacioso, que a Beira Boi foi superando as dificuldades que encarava. “Apesar de ter sido demasiado doloroso e penoso, tenho a certeza que todas as dificuldades pelas quais passei serão valorizadas no futuro. Mesmo perante as situações mais difíceis, e não foram poucas, nunca tive vontade de desistir. Não está no meu DNA nem na minha essência desistir”. Para evitar uma nova crise, Frederico foi obrigado a trocar a mecânica – reparação de automóveis era o que fazia – pela pecuária, uma área que desconhecia por completo, e o conforto da cidade pela lama do campo. Reinventou-se após os 40 anos de idade, e transformou-se num produtor, não apenas de fim-de-semana, mas a tempo integral, e de forma audaciosa dedica-se a 150% ao trabalho. 

“A minha vida nunca tinha estado ligada à agricultura ou pecuária. Desde sempre tinha estado no ramo automóvel. Vi-me forçado a deixar a cidade, Maputo, e ir para Cheadeia, na localidade de Tica, onde tive de fazer muitos sacrifícios. Habituado às condições citadinas, não tive outra solução a não ser adaptar-me à vida do campo, aprender a tomar banho de caneco, viver sem energia, fazer quilómetros e quilómetros a pé e de tractor. Era essencial que me inteirasse de toda a operação, por isso acompanhava os trabalhadores a fazer as avaliações, a procurar animais, nas contagens dos animais e no seu tratamento, era a única forma que tinha de aprender intensivamente a orgânica do agronegócio”, recordou, sem deixar de referir o apoio incondicional que tem tido de profissionais ligados à área. “Apesar dos desafios, reconheço que tenho conseguido superar muito graças a orientação profissional e acompanhamento que tenho recebido do Dr. Américo da Conceição, Director Nacional de Pecuária, que está sempre disponível para nos guiar, nos orientar e, principalmente, partilhar o seu conhecimento e dar-nos alento de forma que possamos superar, progredir e desenvolver o sector. Pessoas como ele, com este espírito e dedicação à profissão, são de extremo valor. Pessoas como ele fazem falta nesta área.”

A Beira Boi conta actualmente com uma manada de cerca de 1400 cabeças. A carne proveniente desta empresa é maioritariamente comercializada na zona centro, sendo os talhos e supermercados os seus principais clientes.

O céu é o limite

Segundo Frederico, o seu objectivo a longo prazo é tornar-se o maior criador de gado do país. “A Beira Boi é um enorme desafio, disso não tenho dúvidas, só eu sei o que tenho passado nestes quase três anos. Tal como também não tenho dúvida que estamos no caminho certo, não por ser eu a pessoa que está ao leme da Beira Boi, mas porque temos um objectivo claro que pretendemos alcançar. Estou ciente de que o caminho será muito longo e árduo, pois queremos tornar-nos nos maiores criadores da zona centro num futuro próximo. Mas não queremos ficar por aí, a meta é sermos os maiores criadores do país – esse sim, é o nosso grande objectivo.” No entanto, Frederico compreende que, para chegar lá, ainda é preciso quebrar velhos estigmas relacionados com a carne moçambicana. “Existem vários produtores de carne espalhados pelos vários pontos do país, desde Maputo, Beira, Chimoio, Magude, Gaza, entre outros. Produzimos carne de qualidade, que não fica aquém da carne produzida na vizinha África do Sul. Porém, enquanto não eliminarmos o estigma de que em Moçambique não se produz carne de qualidade, nós, produtores moçambicanos, vamos continuar a enfrentar dificuldades”. Frederico defende que deverá haver uma união da cadeia de produção e uma maior defesa do produto interno, conseguindo assim manter a consistência de fornecimento e uma oferta cada vez maior de carne de qualidade, invertendo o actual cenário e a opinião das pessoas. “Neste momento, todos os nossos novos clientes estão extremamente satisfeitos com a carne que produzimos, inclusive alguns sul-africanos que comercializam carne dizem que a nossa carne não fica a dever à sul-africana. E acreditem, estive a negociar durante oito meses para conseguir fazer a primeira venda a um talho pertencente a um sul-africano”, contou o produtor resiliente e persistente, acerca do seu sucesso após várias tentativas falhadas até conseguir um contrato de fornecimento de carne a um dos seus principais clientes.

Fundada em 2008, a Beira Boi é uma empresa do sector
agro-pecuário que se dedica principalmente à produção
de gado de corte. Localiza-se no distrito de Nhamatanda
e conta actualmente com cerca de 1400 cabeças.

A Beira Boi tem no seu plano estratégico a construção de uma unidade de processamento, com vista a ter a sua própria linha de abate. Frederico partilhou ainda que, neste momento, estão a ser construídas infra-estruturas para acolher a Feira Regional de Agronegócio, uma Parceria Pública Privada (PPP) com a ADZ. A realização da Feira está prevista para entre Agosto e Setembro, indo ela certamente dinamizar e impulsionar o agronegócio na aquela região do país.
Crescer e criar impacto na comunidade onde opera.

Dados gerais da empresa – Beira Boi, Lda.:

Ano de criação: 18 de Fevereiro 2008
Localização: Chadeia, distrito de Nhamatanda, província de Sofala
Actividade principal: gado de corte e engorda
Área explorada: 11 mil hectares
Mercado/Clientes: talhos e supermercados
Efectivo animal (manada): 1400 cabeças
Raças: Brahman, Beefmaster, Boran e Landim (raça local)
Número de colaboradores: 42 (desde tractoristas, técnicos de agro-pecuária, pastores, pessoal de manutenção, área de vedação, guardas) e colaboradores sazonais. 

A Beira Boi é uma das maiores produtoras de carne na zona centro. A empresa conta, neste momento, com um efectivo total de 42 trabalhadores, distribuídos pelas várias áreas inerentes à sua actividade. Desde tractoristas, técnicos de agro-pecuária, pastores, técnicos da área de manutenção, entre outros, além de trabalhadores sazonais. A maior parte dos quadros são naturais da região, com especial enfoque em jovens e mulheres. Frederico Carvalho refere que a missão da Beira Boi é crescer e criar real impacto nas comunidades locais que se encontram na propriedade e em volta dela, melhorando a qualidade de vida das pessoas através de projectos sociais e inclusivos. “Para a empresa se desenvolver de forma sustentável, é preciso envolver a comunidade e criar real valor para a mesma, impactando-a positivamente. Neste momento, estamos a criar um projecto de machamba – iniciativa que consiste em alocação de um pedaço da nossa terra à comunidade local para que esta possa produzir todo o tipo de culturas, para que possamos comercializá-las e, assim, gerar renda para as famílias. Esta iniciativa está muito orientada para as mulheres, como forma de inclusão e empoderamento da mulher”. Ainda no âmbito do trabalho social da empresa, Frederico garante que, a partir deste ano, pretende apoiar os alunos das escolas Alberto Chipande e Eduardo Mondlane, em Cheadea, no distrito de Nhamatanda, através da doação de uma merenda escolar, podendo desta forma contribuir com uma refeição condigna para estas crianças, com o intuito de garantir, para além de retenção de alunos nas escolas, uma maior concentração no aprendizado e, consequentemente, na formação dos futuros jovens.

SourceXONGUILA
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